terça-feira, 24 de abril de 2012

O trote


Acontece a cada início de período letivo. Mais caracterizado nas Universidades, embora em algumas escolas de nível médio ocorra igualmente.

É o trote a que são submetidos os calouros. Dos banhos de lama, cortes de cabelo e pinturas exageradas pelo corpo, tem, a cada ano, mais evidenciado o desrespeito e a inconsequência.

Da humilhação de sair à rua mendigando moedas, ao desfile público portando sacos de estopa à guisa de vestimenta, passou-se a engendrar maiores maldades e atos vexatórios.

Mais de uma vez o excesso, do que deveria ser uma saudável brincadeira, coloca em risco a vida do calouro.

São queimaduras por produtos químicos até o coma alcoólico, pela indução à ingestão de bebidas alcoólicas variadas.

O momento de alegria, de comemoração do sucesso se transforma em pesadelo ao calouro e aos seus familiares.

Os meses exaustivos de estudo, a tensão pelas provas, a disputa por uma vaga, o investimento emocional e financeiro se encerra, por vezes, para o candidato, de forma frustrante.

Será isso que a Universidade tem a oferecer? Certo que o que os bancos acadêmicos oferecem é a instrução.

Mas o conhecimento ampliado, a possibilidade do avançar no intelecto estará acaso criando monstros? Seres humanos insensíveis, ou pior, maus ao ponto de agredir colegas novatos?

Com certeza, isso é o reflexo do relaxamento da educação, a arte de formar caracteres.

Reflexo de lares onde tudo se está permitindo à criança, que cresce com o conceito de que tudo pode.

Mesmo porque, desde os bancos escolares primeiros, em muitos casos, os professores são reféns em sala de aula.

Reféns de pais que dão razão irrestrita aos filhos, com o argumento de que pagam a mensalidade.

Reféns de alunos que sabem que não importa o que façam, nada lhes acontecerá.

Então, nos perguntamos: Para onde vamos, afinal? O que será do mundo, se os profissionais em formação agem com total desrespeito ao ser humano, às leis, à ordem?

Que esperaremos de um profissional médico amanhã, se hoje, adentrando a Universidade, ele massacra seu colega?

Que aguardaremos de um advogado amanhã, se agora ele se permite o desrespeito ao companheiro de classe, em total desconsideração com a ética?

Que nos reserva o futuro?

* * *

Pais e professores cabe-nos retomar as rédeas e estabelecer diretrizes.

Ética no lar, respeito na escola, normativas de comportamento.

Parceria lar-escola. Parceria nos propósitos, nos ideais. Sentirmo-nos como partícipes de um mesmo e grandioso propósito de educação.

Assim, quando as crianças se transformarem em adolescentes, em jovens, estaremos de braços dados, nas comemorações dos seus sucessos.

E quando chegar o momento do trote, teremos eventos produtivos acontecendo.

Gincanas entre grupos de uma e outra faculdade, disputando quem arrecada maior quantidade de alimentos para o lar de idosos; quem consegue maior número de latas de leite em pó para as creches.

Teremos mutirões de jovens, dispostos a colaborar com o próprio complexo estrutural universitário, pintando, consertando, melhorando a calçada, embelezando o jardim.

Pensemos nisso e invistamos logo, para um amanhã de paz com que todos sonhamos.
 

Um comentário:

Sónia da Veiga disse...

Bem pertinente Rita!
Por cá é igual (só muda a altura do ano, que cá é em Setembro) e é triste pensar na falta de respeito que isso implica, no quão cobarde é o acto de repetir actos ignóbeis nos outros apenas porque também lhes fizeram, em vez de quebrarem o ciclo...

Mas haja esperança que o bom senso venha a prevalecer!

Beijinhos e boa semana amiga!