sábado, 3 de março de 2012

Novos Horizontes


Quando queremos que alguma coisa fique
ancorada à nossa vida, fazemos de tudo para
mantê-la presa à nós.
Criamos laços e os apertamos com todo nosso coração.
Os nós fazem parte de nós.
Infelizmente, nem tudo o que se apega
a nós é bom e útil.
Se prezamos ter laços afetivos e pedaços de memórias
agarradas definitivamente à nossa pele,
há aqueles nós que se apegam sem que nossa
permissão seja pedida e sem que tenhamos
forças para desatá-los.
Esses nos acompanham e nos adoecem.
Viver com nós na garganta, que não descem e nem saem,
nos deixa deficientes.
Avançamos em algumas outras coisas,
mas o não resolvido fica, como um espinho na carne.
Aquilo que não conseguimos engolir é o perdão que não
conseguimos oferecer, é o esclarecimento que
nunca nos foi dado, são os porquês nunca
respondidos.

A gente caminha, mas sente que algo ficou
pra trás e muitas das dores de garganta que não conseguimos
curar são emoções presas das quais não soubemos
nos livrar.
O que fica atravessado diante de nós é o peso que
carregamos por vezes por anos e anos.
O dia bendito em que conseguimos colocar em
palavras e lágrimas aquilo que nos ofendeu,
entrou em nós e ficou, o sol desponta no horizonte
como se fosse seu primeiro dia.
Ah, Deus, se tivéssemos sempre
a coragem de abrir nosso coração e gritar nossa mágoa,
quão mais leves e sãos poderíamos viver!
Por que esse medo de expor o que nos desagrada?
Por que temer ferir o outro quando estamos,
nós mesmos e inteiramente, sangrando?
Por que a felicidade alheia, se felicidade alheia há,
é mais importante que a nossa?
Grande parte dos nossos problemas, das nossas doenças até físicas,
são falta de comunicação.
Por que não dizemos, não passamos ao outro
o que sentimos, não falamos do sentimento
de injustiça que sentimos e do quanto isso nos abala.
Falar é importante.
No bom momento, claro, que com sabedoria
deve ser escolhido, mas é muito importante.
O que não dizemos, o outro não é obrigado
a adivinhar e isso nunca podemos cobrar.
Os nós não resolvidos atam nossa vida a um
certo momento.
Não crescemos como convém e mesmo nosso
riso é sempre manchado por uma pinta de tristeza que
traduz nosso olhar.
Quando sentiu que tinha que se revoltar no Templo,
Jesus se revoltou, nenhuma palavra poupou;
quando a dor e tristeza foram grandes demais no seu seio,
Ele chorou; quando o cálice tornou-se
por demais amargo, falou com o Pai...
A liberdade só nos chega quando liberamos nosso ser,
quando oferecemos ao outro o direito de ouvir,
perdoamos o que deve ser perdoado e aceitamos o que
deve ser aceitado.
Se criamos a coragem de desatar, devagar, certo, mas desatar,
um a um os laços que nos incomodam,
liberamos uma a uma as ansiedades,
os males que nos doem física e psicologicamente.
Nessas horas nosso coração bate de maneira diferente,
respiramos mais ar puro e nossos olhos se abrem para
novos horizontes.
Só um pequeno passo, um muito de coragem e uma
nova vida pode começar.
  Letícia Thompson




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