quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O frio que vem de dentro





Quatro homens ficaram bloqueados numa caverna por uma avalanche de neve. Teriam que esperar até o amanhecer para poderem receber socorro. Cada um deles trazia um pouco de lenha e havia uma pequena fogueira ao redor da qual eles se aqueciam. Se o fogo apagasse, todos morreriam de frio antes que o dia clareasse. Chegou a hora de cada um colocar sua lenha na fogueira. Era a única maneira de poderem sobreviver.
O primeiro homem era um rico avarento. Ele estava ali porque esperava receber os juros de uma dí­vida. Olhou ao redor e viu um cí­rculo em torno do fogo bruxuleante, um homem da montanha, que trazia sua pobreza no aspecto rude e nas roupas remendadas. Ele fez as contas do valor da sua lenha e enquanto mentalmente sonhava com o seu lucro, pensou: – Eu, dar a minha lenha para aquecer um preguiçoso?
O segundo homem era negro. Seus olhos faiscavam de ira e ressentimento. Não havia qualquer sinal de perdão ou mesmo aquela superioridade moral que o sofrimento ensinava. Seu pensamento era muito prático: – É bem provável que eu precise desta lenha para me defender. Além disso, eu jamais daria minha lenha para salvar aqueles que me oprimem. E guardou suas lenhas.
O terceiro homem era o pobre da montanha. Ele conhecia mais do que os outros os caminhos, os perigos e os segredos da neve. Ele pensou: – Esta nevasca pode durar vários dias. Vou guardar minha lenha.
O último homem trazia no rosto e nas mãos os sinais de uma vida de trabalho. Seu raciocí­nio era curto e rápido. – Esta lenha é minha. Custou o meu trabalho. Não darei a ninguém nem mesmo o menor dos meus gravetos. Com estes pensamentos, os homens permaneceram imóveis. A última brasa da fogueira se cobriu de cinzas e finalmente apagou.
Ao alvorecer, quando os homens do socorro chegaram  nacaverna encontraram os cadáveres congelados, cada qual segurando um feixe de lenha. Vendo aquele triste quadro, o chefe da equipe disse:
- O frio que os matou não foi o frio de fora, mas o frio de dentro.

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