terça-feira, 14 de outubro de 2008

O Pássaro Encantado





Era uma vez uma menina
que tinha um pássaro
como seu melhor amigo.

Ele era um pássaro diferente de todos os demais:
Era encantado.

Os pássaros comuns,
se a porta da gaiola estiver aberta,
vão embora para nunca mais voltar.

Mas o pássaro da menina voava livre
e vinha quando sentia saudades...

Suas penas também eram diferentes.
Mudavam de cor.

Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos
e longínquos por onde voava.

Certa vez, voltou totalmente branco,
cauda enorme de plumas fofas como o algodão.

Menina, eu venho de montanhas frias
e cobertas de neve,
tudo maravilhosamente branco e puro,
brilhando sob a luz da lua,
nada se ouvindo a não ser o barulho do vento
que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores.
Trouxe, nas minhas penas,
um pouco de encanto que eu vi,
como presente para você....

E assim ele começava a cantar as canções
e as estórias daquele mundo que a menina nunca vira.

Até que ela adormecia,
e sonhava que voava nas asas do pássaro.

Outra vez voltou vermelho como fogo,
penacho dourado na cabeça.

... Venho de uma terra queimada pela seca,
terra quente e sem água, onde os grandes,
os pequenos e os bichos sofrem
a tristeza do sol que não se apaga.

Minhas penas ficaram como aquele sol
e eu trago canções tristes daqueles
que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras
e ver a beleza dos campos verdes.

E de novo começavam as estórias.

A menina amava aquele pássaro
e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia.

E o pássaro amava a menina,
e por isso voltava sempre.

Mas chegava sempre uma hora de tristeza.

Tenho que ir, ele dizia.

Por favor não vá, fico tão triste,
terei saudades e vou chorar...

Eu também terei saudades, dizia o pássaro.
Eu também vou chorar.

Mas eu vou lhe contar um segredo:
As plantas precisam da água, nós precisamos do ar,
os peixes precisam dos rios...

E o meu encanto precisa da saudade.
É aquela tristeza, na espera da volta,
que faz com que minhas penas fiquem bonitas.

Se eu não for, não haverá saudades.

Eu deixarei de ser um pássaro encantado
e você deixará de me amar.

Assim ele partiu. A menina sozinha,
chorava de tristeza à noite.

Imaginando se o pássaro voltaria.
E foi numa destas noites que ela teve uma idéia malvada.

Se eu o prender numa gaiola,
ele nunca mais partirá; será meu para sempre.

Nunca mais terei saudades,
e ficarei feliz.

Com estes pensamentos comprou uma linda gaiola,
própria para um pássaro que se ama muito.
E ficou à espera.

Finalmente ele chegou, maravilhoso,
com suas novas cores,
com estórias diferentes para contar.

Cansado da viagem, adormeceu.

Foi então que a menina, cuidadosamente,
para que ele não acordasse,
o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse.
E adormeceu feliz.

Foi acordar de madrugada,
com um gemido triste do pássaro.

Ah! Menina... Que é que você fez?
Quebrou-se o encanto.
Minhas penas ficarão feias
e eu me esquecerei das estórias....

Sem a saudade, o amor irá embora...

A menina não acreditou.
Pensou que ele acabaria por se acostumar.

Mas isto não aconteceu.
O tempo ia passando, e o pássaro ia ficando diferente.

Caíram suas plumas, os vermelhos,
os verdes e os azuis das penas
transformaram-se num cinzento triste.

E veio o silêncio, deixou de cantar.

Também a menina se entristeceu.
Não, aquele não era o pássaro que ela amava.

E de noite ela chorava pensando
naquilo que havia feito ao seu amigo...

Até que não mais agüentou.

Abriu a porta da gaiola.

Pode ir, pássaro, volte quando quiser...

Obrigado, menina. É, eu tenho que partir.
É preciso partir para que a saudade chegue
e eu tenha vontade de voltar.
Longe, na saudade, muitas coisas boas
começam a crescer dentro da gente.

Sempre que você ficar com saudades,
eu ficarei mais bonito.

Sempre que eu ficar com saudades,
você ficará mais bonita.
E você se enfeitará para me esperar...

E partiu. Voou que voou para lugares distantes.
A menina contava os dias,
e cada dia que passava a saudade crescia.

Que bom, pensava ela,
meu pássaro está ficando encantado de novo...

E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos;
e penteava seus cabelos, colocava flores nos vasos...

Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje...

Sem que ela percebesse,
o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro.

Porque em algum lugar ele deveria estar voando.
De algum lugar ele haveria de voltar.

AH! Mundo maravilhoso que guarda em algum lugar
secreto o pássaro encantado que se ama...

E foi assim que ela, cada noite ia para a cama,
triste de saudade, mas feliz com o pensamento.

Quem sabe ele voltará amanhã....

E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.









Um comentário:

Yamar Bijoux disse...

Oisssssss...
Essa emocionou! snif...
Me lembrou tanto meus filhos voadores... E é isso aí mesmo... não dá pra prender... no nosso colo. Mas a saudades é imensa!
Beijos e melhoras pra Cecília.
Ya