Uma querida amiga me enviou este texto, com a conclusão de que nesta mensagem podemos definir a essência do Amor de uma maneira geral e como ele acaba, como deixamos de amar , um sentimento só nosso, de dentro do coração... seja amor de amigo, amor de irmão, amor por uma situação, amor de homem mulher, amor de filho, amor por um lugar...
É simples e nos machuca o tanto que nos torna possível sentir que um simples gesto disgnostica a quebra deste sentimento.
Dígno de Refletir e Sentir.
Boa leitura.
O amor acaba.
Numa esquina, por exemplo,
num domingo de lua nova,
depois de teatro e silêncio;
acaba em cafés engordurados,
diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar;
de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel
ou que ela esmaga no cinzeiro repleto,
polvilhando de cinzas o escarlate das unhas;
na acidez da aurora tropical,
depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio;
e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema,
como tentáculos saciados,
e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão;
como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado;
na insônia dos braços luminosos do relógio;
e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg,
entre frisos de alumínio e espelhos monótonos;
e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão;
às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres;
mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia;
no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar;
na epifania da pretensão ridícula dos bigodes;
nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas;
quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia,
onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar;
na compulsão da simplicidade simplesmente;
no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina;
no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores;
em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas,
onde há mais encanto que desejo;
e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos,
caindo imperceptível no beijo de ir e vir;
em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero;
nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus,
ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados
o amor se eriça e acaba;
no inferno o amor não começa;
na usura o amor se dissolve;
em Brasília o amor pode virar pó;
no Rio, frivolidade;
em Belo Horizonte, remorso;
em São Paulo, dinheiro;
uma carta que chegou depois, o amor acaba;
uma carta que chegou antes, e o amor acaba;
na descontrolada fantasia da libido;
às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes;
e muitas vezes acaba em ouro e diamante,
dispersado entre astros;
e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque;
no coração que se dilata e quebra,
e o médico sentencia imprestável para o amor;
e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos,
até se desfazer em mares gelados;
e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo;
na janela que se abre, na janela que se fecha;
às vezes não acaba e é simplesmente esquecido
como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão
até que alguém, humilde, o carregue consigo;
às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido;
mas pode acabar com doçura e esperança;
uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade;
o álcool;
de manhã, de tarde, de noite;
na floração excessiva da primavera;
no abuso do verão;
na dissonância do outono; no conforto do inverno;
em todos os lugares o amor acaba;
a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba;
para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
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