domingo, 22 de junho de 2008
O sono das águas
"Há uma hora certa, no meio da noite, uma hora morta, em que a água dorme.
Todas as águas dormem: no rio, na lagoa, no açude, no brejão, nos olhos d'água, nos grotões fundos.
E quem ficar acordado, na barranca, a noite inteira, há de ouvir a
cachoeira parar a queda e o choro, que a água foi dormir...
Águas claras, barrentas, sonolentas, todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas, fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha nas placas da folhagem e adormece.
Até a água fervida, nos copos de cabeceira dos agonizantes...
Mas nem todas dormem, nessa hora de torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando, e chorando, a noite toda, porque a água dos olhos nunca tem sono...“
(Guimarães Rosa)
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